segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sagarana de João Guimarães Rosa


Sagarana promove uma total renovação do regionalismo brasileiro. Guimarães Rosa trás uma complexidade maior para essa representação regional. Ele vai mais além, unindo o idioma brasileiro com o da europa, o que pode ser visto no próprio titulo da obra, Sagarana, que vem de "SAGA", radical de origem germânica, que significa “canto heróico”, e "RANA", língua indígena, que significa “à maneira de”.

São nove contos .A grandeza dessas produções narrativas não está apenas presa ao cenário, ou à linguagem, mas à riqueza da experiência humana traduzida através de personagens que parecem, em certos momentos, vencer suas fraquezas humanas para entrar para a galeria dos mitos e heróis do sertão. Dentro desse mundo regional, a paisagem integra-se ao homem, delirando junto com ele (Sarapalha), servindo de itinerário sensorial à sua cegueira (São Marcos), servindo de caminho e descaminhos (Duelo), mostrando seus avisos e perigosos (O Burrinho Pedrês) bem como instrumentalizando, através do trabalho, a possibilidade de ascensão ao plano do divino (A hora e vez de Augusto Matraga). O processo mimético (imitativo) atinge a perfeição meticulosa, recriando detalhes insignificantes da natureza sentido de capacitar a universalização, ou seja, de inventar uma outra natureza além espaço natural e emprestar ao cenário das Gerais características universalizastes.

Não são esquecidos os valores espirituais do matuto mineiro, que se igualam e traduzem os valores comuns aos homens de qualquer espaço ou tempo, consagrando a travessia humana pelo viver. As crendices deixam, assim, seu espaço restrito para tocarem a intuição universal de uma fé que ultrapassa fronteiras, colocando os sentimentos religiosos como de uma cadeia universal e metafísica, igualando os homens através de sua força interior circundando o pensamento da roça de que o destino inexorável nasce das atitudes humanas e da força diária empregada na sua condução.
Sagarana , compõe-se de nove contos, com os seguintes títulos:
- "O BURRINHO PEDRÊS"
" A VOLTA DO MARIDO PRÓDIGO"
"SARAPALHA"
"DUELO"
"MINHA GENTE"
"SÃO MARCOS"
"CORPO FECHADO
"CONVERSA DE BOIS"
"A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA"

Em O burrinho pedrês, primeiro dos nove contos, Guimarães procura mostrar, tendo como pano de fundo o mundo dos vaqueiros, que todos têm a sua hora e sua vez de ser útil. É o caso do burrinho Sete-de-Ouros: a gente segue a esperteza mansa do bicho, a sua finura de instinto e inteligência que o faz poupar-se, furtar-se a choques e maus pisos e, por fim, orientar-se e salvar-se numa cheia onde os cavalos afogam, carregando um bêbado às costas e ainda outro náufrago enclavinhado no rabo - ressalta Oscar Lopes.

O burrinho pedrês é uma estória que metaforiza a experiência da velhice, um burrinho experiente sabe se orientar onde cavalos de boa montaria sucumbem.

Neste conto, assim como em Conversa de bois e em A volta do marido pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber.

A ironia do escritor vale-se do decadente burrinho para pôr a nu a onipotência presunçosa do homem, que julga controlar o próprio destino, ignorando as inesperadas surpresas que este lhe reserva. A perspectiva místico-religiosa, a luta entre o bem e o mal, os riscos morais que acompanham o homem no perigoso ofício de viver, são os temas preponderantes que alimentam a ficção.
Sete de Ouro, é um burrinho já idoso é escolhido para servir de montaria num transporte de gado. Um dos vaqueiros, Silvino , está com raiva de Badu , que anda namorando a moça de quem Silvino gostava . Corre o boato entre os vaqueiros, de que Silvino pretende vingar-se do rival.

De fato Silvino atiça um touro e o faz investir contra Badu  que ,  consegue domá-lo. Os vaqueiros continuam murmurando que Silvino vai matar Badu. A caminho de volta, este , bêbado , é o último a sair do bar e tem que montar no burro. Anoitece e Silvino revela a seu irmão o plano de morte.

Contudo, na travessia do Córrego da Fome, que pela cheia transformara-se em rio perigoso, vaqueiros e cavalos se afogam . Salvam-se apenas Badu e Francolim , um montado e outro pendurado no rabo do burrinho
.
O AUTOR
João Guimarães Rosa nasceu em Codisburgo (MG) e morreu no Rio de Janeiro em 1967. Filho de um comerciante do centro-norte de Minas, fez os primeiros estudos na cidade natal, vindo a cursar Medicina em Belo Horizonte.

Formado Médico, trabalhou em várias cidades do interior de Minas Gerais, onde tomou contato com o povo e o cenário da região, tão presentes em suas obras. Autodidata, aprendeu alemão e russo, e tornou-se diplomata, trabalhando em vários países.

Veio a ser Ministro no Brasil no ano de 1958, e chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras, tratando de dois casos muito críticos de nosso território: o do Pico da Neblina e das Sete Quedas.

Seu reconhecimento literário veio mesmo na década de 50, quando da publicação de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile , ambos de 1956. Eleito para ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras no ano de 1963, adiou sua posse por longos anos. Tomando posse no ano de 1967, morreu três dias depois, vítima de um enfarte.

       Síntque Azevedo

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